Frigoríficos pedem mais prazo

Os grandes frigoríficos brasileiros que atuam na Amazônia apresentaram resultados menores do que o acordado para promover o desmatamento zero e pediram mais tempo.

Em reunião na sede da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec), em São Paulo, dois dos três maiores frigoríficos do país, a Marfrig e o Minerva, apresentaram ontem resultados menores do que o prometido no compromisso assinado com o Greenpeace em outubro de 2009. As empresas adotaram, na época, um cronograma para cadastrar e mapear todas as fazendas de seus fornecedores – diretos e indiretos – na Amazônia. A primeira fase do trabalho consistia em cadastrar e mapear as fazendas que fornecem boi gordo para seus abatatedouros situados no bioma Amazônia. O monitoramento de toda a cadeia produtiva da pecuária é fundamental para que os frigoríficos possam assegurar a seus clientes e consumidores que os produtos bovinos que comercializam não contribuem para o desmatamento do maior patrimônio ambiental do Brasil.
Apesar disso, as empresas mostraram avanços significativos nos últimos seis meses de trabalho e reiteraram o interesse em não permitir que o desmatamento continue manchando a sua cadeia de produção. A Marfrig, por exemplo, informou ter cadastrado os fornecedores de 80% de seu volume de abate, mas ainda não tem os mapas de todas as fazendas. A Abiec, que acompanha de perto o trabalho dos dois frigoríficos, manifestou seu interesse em expandir a adesão ao compromisso do desmatamento zero a outros associados que atuam na região Norte do país. A entidade e as empresas pediram um prazo adicional de 3 meses para completar o cadastro das fazendas e prometem ter os mapas em novembro.
A maior empresa processadora de proteína animal do mundo, a JBS, encontrou-se separadamente com o Greenpeace a e apresentou relatório em que garante que até final de abril 80% de seu volume de abate estará cadastrado. Hoje, segundo informação da empresa, esse número é de 43%. Para completar o trabalho em todos os estados em que opera na Amazônia, a JBS também pediu um prazo adicional de 3 meses. O desmatamento e as queimadas da Amazônia fazem do Brasil o quarto maior inimigo do clima no mundo. A pecuária ocupa 80% das áreas já desmatadas na região.
Seis meses atrás, os presidentes dos quatro maiores frigoríficos do Brasil - JBS-Friboi, Bertin (que fundiu-se com a JBS), Marfrig e Minerva - assinaram um compromisso público para, num prazo de 180 dias, cadastrar seus fornecedores diretos - as fazendas que vendem boi gordo para seus frigoríficos - e completar num prazo de até dois anos o cadastro e mapeamento das fazendas que fornecem animais para as fazendas de engorda.
 Eles reagiam à pressão do Greenpeace e de grandes redes de supermercados, como Wal-Mart, Carrefour e Pão de Açúcar, e produtoras de calçados, como Nike, Adidas e Timberland, que deixaram claro aos grandes frigoríficos brasileiros que não pretendiam continuar comprando couro e carne suspeitos de causarem a destruição da floresta.
Essa garantia, no entanto, os frigoríficos ainda não têm como dar aos seus clientes enquanto o processo de mapeamento das fazendas fornecedoras, com coordenadas geográficas, não for completado. Desde que eles assinaram o compromisso contra o desmatamento na sua cadeia de produção, no último dia 5 de outubro, cerca de 14 mil hectares de floresta tombaram nas áreas de influência desses frigorícos na Amazônia, o que corresponde a pelo menos 40% do total desmatado nos quatro meses analisados.*
“Numa região como a Amazônia, onde a imensa maioria das fazendas não são registradas junto aos órgãos oficiais e a grilagem de terras, a sonegação, a violência, o trabalho escravo e a invasão de terras indígenas e áreas protegidas são práticas comuns, a formalização do setor da pecuária, inclusive o mapeamento das propriedades rurais para que elas possam ser monitoradas, é do interesse nacional”, disse Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia, do Greenpeace.
O Brasil é hoje o maior exportador de carne do mundo e um grande consumidor de proteína de origem animal. “Para manter a liderança no mercado global, interessa aos frigoríficos brasileiros assegurar que o boi adquirido por eles não vem de um fazendeiro que destrói a Amazônia ou contrata trabalho escravo”, diz Adario.
“Interessa igualmente ao fazendeiro, porque isso garante o escoamento de sua produção, bem como ao governo, que pode mostrar um desenvolvimento econômico aliado da inclusão social e preservação ambiental e aos consumidores, que não querem ser sócios da destruição da Amazônia”, prossegue ele. “Mas sobretudo, o fim do envolvimento da pecuária com o desmatamento interessa ao planeta, porque parar com a derrubada da floresta é a forma mais rápida e barata de reduzir as emissões de gases que provocam o aquecimento global.”

* Segundo o Imazon, ONG que monitora o desmatamento da Amazônia com seu sistema SAD, de outubro de 2009 a janeiro de 2010 foram desmatados pelo menos 38.400 hectares na Amazônia. Cerca de 14 mil ha desmatados (40% do total) ocorreram nas áreas de influência principal dos abatedouros (um círculo com 200 km de raio). Já o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Deter/INPE), que não divulgou dados recentes, aponta que 24.700ha foram desmatados no bioma Amazônia entre outubro e novembro de 2009. Desse total, 11,700ha (47,4%) foram desmatados na área de influência principal dos abatedouros.

Fonte: Greenpeace

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